segunda-feira, 30 de junho de 2008

Já Que Não Tem Cor, Usa-se Maquiagem.

Certa manhã,certifiquei-me de que até abrir os olhos era insuportável.Já que não estava ciente do que o dia, havia de ter para surpreender-me.Cinco minutinhos era o que eu pretendia prolongar ao resto do dia.Mas estava ao deparar-me com a escova de dente,e iniciar a vaga e repetida rotina. Ao terminar meu curtíssimo café,fechar portas e janelas e sair de um papel ,para representar outro.Às vezes há algumas segundas como essa, me torno uma icógnita porque acordo ao lado errado da cama.Quero que seja apenas 'eu'.Que deixe de ser um pronome e se encaixe numa frase qualquer.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

O Útero De Cápsulas.

Morava ao lado de um cinema velho, que continha rotações de 1960 em diante. Constipava por viver aprisionada à sua janela, a qual habituadamente via os outros restos atravessando a rua em rumo ao não se sabe o quê. Gostava de ouvir HELP! repetidas vezes, e tão pouco se importava em dançar com os móveis (ou achar que dançavam com ela), em arranhar as cordas vocais com berros insurdecedores, ou até mesmo quem sabe pretendia furar o vinil. Seu coração acelerado ,palpitava por toda a casa, causando irritação nas paredes.
Morava com um amigo; H. era o seu único e companheiro de risadas. Ela acreditava nisso mas juro, ...nunca expressão nele que não fosse preguiça e medo. Todas às noites, recebia na bilheteria do cine estes e aqueles, que nem sempre simpáticos, mas todos pagavam. O objetivo de ambos era falar da má iluminação, ou dos que já estavam mortos. Haviam um ou dois que alí estavam presentes, para colecionar sua lista ou contar os chuviscos das telas. Quando terminava o expediente, ela ia para casa como uma grávida. Sim, pois carregava dentro de todas as frases e palavras dos que ali, esgotaram o estresse e a distração.
[...]Riam do Gordo e o Magro, e as críticas feitas após os filmes[...]
Seu amigo lhe era fiel e a esperava para o jantar.
Ela observava as letras da sopa se afogando e perdendo a cor. Quando voltava para a realidade, se deparava com goteiras e contas repetidas no centro da mesa. Ela queria contar, mas seu amigo que sempre alí estava como o tic-tac do relógio, ela não sentira falta nem presença. Pegara no sono e quando viu entre as cortinas ao acordar um dia chuvoso, sentiu as goteiras apodrecendo e levando os móveis da casa e seu amigo preso a um saco. Não adiantava a vitrola arranhar com HELP! , porque não havia socorro ali. Seu desespero virou riso. E o que estava diante dela era um náufrago e seu amigo, ou melhor, seu gato. Ela o asfixiara. Seu Sub. lhe informara em sonhos ou alucinações alguns miados, mas ela se recusara a parar. Durante o resto do dia ficara aprisionada à sua janela. Era enferma, era inconstante.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Se não posso voar,
Porque me deu aquele vestido ?
Eu te darei a minha caixa de band-aids.

Você não ouve nada do que eu digo e mesmo assim me surpreende quando me toca.
A sua cor favorita está no meu bolso, e eu sinto quando você acende um cigarro.
Você é tão egoísta.
Me conte, porque não posso voar ?
Me divertí quando ninguém assoprou.